Os objetos autísticos
- Rodrigo Prinz
- 26 de mai.
- 2 min de leitura
Atualizado: 1 de jun.

Temple Grandin, uma das autistas de alto desempenho mais conhecidas no mundo, relata que, desde o terceiro ano do Ensino Fundamental, pensava em uma máquina que pudesse exercer pressão sobre seu corpo de maneira intensa e prazerosa. O mais interessante para Grandin era que essa máquina estivesse o tempo todo à sua disposição e a intensidade da pressão pudesse ser controlada por ela. A máquina era aos poucos construída e aperfeiçoada em sua mente. Em uma visita a um parque de diversões, conheceu e experimentou o brinquedo chamado rotor, um imenso cilindro que girava em alta velocidade e, por sua força centrífuga, mantinha as costas das pessoas presas à parede e então retirava seu piso. Grandin diz ter se sentido confortável e relaxada e, por isso, ficou fascinada pelo brinquedo, querendo ter um desses na escola, o que logicamente não foi possível. Anos depois, inspirada no aparelho de brete para gado da fazenda de sua tia, Grandin construiu sua máquina de pressão.
Na clínica com os autistas, é muito frequente observar a associação a objetos, que vão desde um pedaço de fio, uma roda de carrinho ou um garfo, até a construção de máquinas complexas, como a máquina de Temple Grandin.
Temple Grandin, comenta que tinha medo de que o brete tomasse conta dela e a impedisse de sobreviver sem ele, mas logo conseguiu tomá-lo como “apenas um aparelho de imobilização feito de restos de compensado” (p.97) e, por isso, podia ter acesso aos pensamentos e sentimentos que tinha no brete também fora dele. Grandin afirma que o brete permitiu que ela se aproximasse mais da mãe e de outras pessoas:
“Quando entrava no brete, sentia-me mais próxima de pessoas como a minha mãe, o sr. Peters, o sr. Brooks, o sr. Carlock e a tia Ann. Embora fosse apenas um aparelho mecânico, o brete derrubou minha barreira de defensividade tátil e eu podia sentir o afeto e a preocupação dessas pessoas, conseguindo exprimir meus sentimentos por mim mesma e pelos outros.” (Grandin; Scariano,1986/2014, p.97)
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