A contaminação pelo vírus Zika durante a gravidez pode aumentar a probabilidade de Transtorno do Espectro Autista (TEA) nos bebês, conforme descrito em um estudo publicado recentemente na revista Biochimica et Biophysica Acta (BBA) - Molecular Basis of Disease. O trabalho, liderado pela bióloga Cristine Marie Yde Ohki e realizado em colaboração com o Instituto de Ciências Biomédicas (ICB) da USP e o Institut Pasteur de São Paulo, entre outras instituições, analisou quase 160 crianças com Síndrome Congênita do Zika Vírus (SCZ).
A pesquisa, uma continuação de um estudo anterior publicado em 2015 na revista Nature, investigou os efeitos da infecção pelo Zika em células in vitro (em células) e in vivo (em animais), além de examinar uma coorte de crianças com SCZ. Esse estudo é particularmente significativo devido ao surto de infecção pelo vírus Zika no Brasil em 2015, que resultou em milhares de casos de microcefalia.
Os resultados indicam que o Zika pode replicar-se e afetar células nervosas chamadas astrócitos, que desempenham um papel crucial no suporte ao sistema nervoso central. A infecção reduz a capacidade dessas células de regular o neurotransmissor glutamato e leva à produção de citocinas inflamatórias, como a interleucina-6 (IL-6). Além disso, o estudo revelou que o ambiente alterado pelos astrócitos infectados pelo Zika pode afetar negativamente os neurônios, diminuindo sua capacidade de formar sinapses e comportando-se de maneira semelhante aos neurônios encontrados em pessoas com autismo.
Esses achados sugerem uma possível conexão entre a infecção pelo Zika durante a gravidez e o desenvolvimento de TEA nos bebês, abrindo portas para o desenvolvimento de tratamentos que possam beneficiar pacientes com SCZ e TEA.
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