Autismo além dos manuais: a escuta psicanalítica e o sujeito no espectro
- Rodrigo Prinz
- 22 de mai.
- 1 min de leitura
O autismo, mais que um diagnóstico, é uma forma singular de estar no mundo. Muito se fala sobre critérios diagnósticos, escalas e protocolos, mas pouco se escuta o sujeito que vive essa experiência. Na prática clínica cotidiana, principalmente quando se adota uma escuta pautada pela psicanálise, percebemos o quanto cada pessoa no espectro carrega uma organização própria de linguagem, corpo e relação.
A psicanálise, desde os trabalhos de Leo Kanner até as elaborações contemporâneas de autores como Rosine e Robert Lefort, nos convida a escutar o autismo como uma forma de resposta à invasividade do outro, muitas vezes marcada por uma tentativa de construir barreiras simbólicas frente ao excesso de estímulos. O que a clínica nos ensina é que o autista não está “fechado em si”, mas sim que se protege com recursos muitas vezes inventivos diante de um mundo que o invade.
Essa forma de escutar contrasta com abordagens mais diretivas e comportamentais, que por vezes reduzem o sujeito à adaptação funcional. O que propomos é o oposto: abrir espaço para a expressão, respeitar o tempo próprio e, sobretudo

, sustentar a transferência — mesmo quando ela não se apresenta nos moldes clássicos.
Em tempos de discursos padronizados e intervenções massivas, reafirmar uma escuta ética e atenta ao sujeito autista é, acima de tudo, um ato clínico e político. Porque o autismo nos lembra que nem todo sofrimento cabe em protocolos, e que a relação — mesmo silenciosa — ainda é o que funda toda possibilidade de cuidado
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