ANSIEDADE E MEDO
- Rodrigo Prinz
- 1 de jun.
- 3 min de leitura

Pensando no MEDO como central na discussão e considerando a sua própria etmologia - foi usado como phobos (fobia) , como apreensão, angh, angústia... são palavras portanto que podemos considerar como tendo a mesma significação: MEDO E ANSIEDADE. Talvez com pequenas diferenças, por ex. quando ao acometimento orgânico etc...
Medo: o afeto que funda a consciência do finito
Na filosofia, o medo é mais do que um afeto básico — é uma experiência ontológica primária, reveladora da nossa condição vulnerável.
📚 Epicuro dizia que o medo da morte está na raiz de todos os sofrimentos.
“Enquanto vivemos, a morte não existe; e quando ela chega, nós já não existimos.”Mas o medo continua — não da morte, mas da angústia de viver sem controle.
⚫ Heidegger, por sua vez, fala da “angústia” (Angst) como afeto que desvela o ser-no-mundo.
O medo tem objeto (ex: uma ameaça concreta).
A angústia não. Ela é uma exposição crua ao nada.
A ansiedade moderna, portanto, muitas vezes não é medo de algo, mas a vertigem do nada, do tempo, da liberdade.
[…] o termo ansiedade é usado para se referir a um estado de tensão ou apreensão devido a uma expectativa. Esta manifestação é uma reação normal. Contudo, quando provoca sofrimento, passa a ser considerada patológica, pois chega a provocar distúrbios orgânicos.
Neste sentido, “indivíduos ansiosos são capazes de selecionar certos objetos em seu ambiente e ignorar outros, na tentativa de provar que estão certo ao considerar a situação, muitas vezes inofensiva, amedrontadora […]” (PERES, 2018, p. 11).
Desse modo, a antecipação de um evento futuro de forma temorosa gera instabilidade psíquica, principal característica da ansiedade. Podemos dizer que se trata de um estado de tensão diante de alguma expectativa. O que pode ser considerado normal se não houve sofrimento. Porém, esta manifestação se torna patológica quando provoca algum tipo de distúrbio no sujeito.
De acordo com Silva (2020), Freud dividiu a ansiedade em três categoria: Realista, Moral e Neurótica. Dessa maneira, a primeira se refere ao medo de algo existente no mundo exterior. Já a segunda, se trata de um medo se ser punido pelo sentimento de culpa. Por fim, a terceira está relacionada ao medo sem objeto reconhecido, ou seja, um temor de algo que pode ou não existir.
A ansiedade pode ser considerada como um sinal indicador para o organismo de necessidade de levantar defesas psicológicas. Dessa maneira, “a ansiedade representa um papel central no funcionamento do aparelho psíquico” (SILVA, 2020, p. 09). Neste sentido:
Sigmund Freud salienta que a ansiedade é consequência de traumas da infância que foram rechaçados pelo Ego como um mecanismo de defesa para a evitação da dor.
A ansiedade é uma reação defensiva do organismo, ou seja, uma espécie de sinal de alerta diante dos estímulos existentes e dos perigos iminentes, sejam reais ou imaginários. Além disso, a ansiedade leva o sujeito a tomar medidas de proteção para enfrentar uma ameaça, caracterizando-se como uma resposta a uma ameaça vaga ou sem origem objetiva.
2. Ansiedade: o medo sem nome
No DSM, ansiedade é sintoma.Na clínica, é um grito silencioso da alma em busca de sentido.
➤ O ansioso teme o que não sabe nomear.
Teme o julgamento.
Teme falhar, mesmo sem saber o que significa “fracasso”.
Teme perder o que nem possui.
Aqui entra Lacan, com sua ideia de que:
“A ansiedade é o único afeto que não engana.”Ela marca o furo na fantasia. Quando o sujeito percebe que o Outro não é garantido, não oferece sentido pleno — surge a ansiedade.
3. O Medo como Produto da Modernidade
Vivemos a era do indivíduo excessivamente responsável por si, como diria Bauman:
Liberdade virou pressão.
A possibilidade virou exigência.
A solidão, que antes era silêncio fecundo, virou sintoma.
Resultado?
Um exército de ansiosos hiperfuncionais.Gente que acorda no automático, sorri com o filtro, mas treme por dentro.
🔁 Como isso se conecta com a clínica?
O medo não pode ser eliminado — deve ser simbolizado.O sujeito ansioso precisa poder nomear o que sente, ou ao menos ser escutado sem a pressa do alívio imediato.
A escuta clínica se torna um ato ético.Quando escutamos a ansiedade não como patologia, mas como sinal de um impasse subjetivo, abrimos espaço para o sujeito se reinscrever no desejo — e não só no circuito dos sintomas.
Tratar a ansiedade não é silenciar o medo, mas dar-lhe linguagem.O trabalho psiquiátrico e psicanalítico juntos oferecem contenção (se necessário, medicamentosa) e elaboração(pela palavra e pela transferência).
✍️ Fechamento:
O medo é o avesso da potência.
A ansiedade, sua forma difusa.
E o tratamento?É a travessia entre o desamparo e o desejo.
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